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Aparelhos Ideológicos do Estado - Louis Althusser (Repressão e ideologia sobre coisas mortas)

Atualizado: 13 de out. de 2018


Li o excelente artigo de Liszt Vieira Se o inominável ganhar, para Carta Maior. Ele imagina a sociedade se o subterrâneo fascista neoliberal vencer as eleições. Alude a Hitler e aos jovens seguindo o mito. O primeiro ato deles seria invadir uma livraria, claro. Queimariam Platão, Morus, Hegel, Marx, Foucault e outros que falaram de democracia, de socialismo, de liberdade, de povo. Depois, queimariam museus, memória material dos povos destroçados pelo colonialismo. Em seguida, perseguiriam os naturalmente subversivos: socialistas, comunistas, progressistas; antigos professores, pesquisadores. Artistas também. Finalmente, agiriam em nome da moral: perseguiram mulheres, maconheiros, ateus e outras incômodas pedras no sapato da elite: índios, negros, trabalhadores, pobres em geral.


Esse é o cenário daqueles que criam desertos devastando o conhecimento, a crítica, a arte, a linguagem, a inteligência, a criatividade, a liberdade: mídias oficiais, escolas, universidades, instituição familiar, igreja, poderes. Mas essa é uma história repetida. Por que não muda? Voltei a Althusser e seu Aparelhos Ideológicos do Estado: para que uma sociedade produza e se mantenha, deve haver reprodução da força de trabalho e submissão dessa força à ideologia dominante.


Althusser vai construindo seu edifício-metáfora da sociedade: infraestrutura e superestrutura: o Estado – tribunais, prisões, exército, polícia – é o aparelho repressor que assegura o domínio das classes dominantes no processo de extorsão e de exploração capitalista. Igreja, escola, família, justiça, política, sindicatos, órgãos de informação e de cultura são os aparelhos ideológicos unificados pela ideologia dessa mesma classe dominante. Na relação entre esses aparelhos é que se mantém o status quo.


Entre os aparelhos ideológicos do Estado, a escola é o dominante: ensina o know how e as regras de moral e de consciência cívica e profissional da classe dominante. Na escola, como nos outros aparelhos ideológicos do Estado, aprende-se a obedecer aos mesmos de sempre e a dar ordens a outros, também os de sempre. Aprende-se o significado de se pertencer a um grupo e de seguir seus valores centrais: conceito de deus, de pai, de mãe, de filho, de estudante, de nação, de lei, de cultura, do intelectual. Esses aparelhos envolvem percepções e processos reais de homogeneização, de uniformização, de destruição do pensamento: o conhecimento, original, é atropelado pelo conhecimento gerencial: performance, desempenho, felicidade, sucesso, saúde, competitividade, flexibilidade, resiliência. Nada de crítica, de questionamento, de tentativa, de erro, de nacionalismo.


Althusser defende que só a consciência de que somos sujeitos (perversamente) inseridos nos rituais mais elementares da vida cotidiana nos possibilitará romper com a ideologia dominante, superando a vingança vulgar, rasteira e pedestre do fascismo sobre os povos e sua memória, suas coisas, seus arquivos mortos.

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