A Ideologia Alemã é o primeiro livro escrito por Karl Marx e Friedrich Engels. Critica a ideia dos jovens hegelianos de que, para transformar a realidade, é preciso mudar as ideias. Para Marx e Engels, é justamente o contrário que deve ser feito: partir da realidade, não das ideias. Toda a historiografia deveria, então, partir das ações dos homens inseridos em condições materiais de produção, na divisão do trabalho.
Essa divisão separa o trabalho em industrial/comercial e trabalho agrícola; em trabalho intelectual e trabalho material, os quais são destinados a sujeitos diferentes. Tal separação gera divisões e oposições de interesses e se efetiva quando se separa o trabalho material do intelectual, repartindo, desigualmente, o trabalho e seus produtos, tanto em quantidade, quanto em qualidade. Ela significa também a contradição entre o interesse individual e o coletivo. É justamente essa contradição entre o interesse particular e o coletivo que leva este último a fazer as vezes de Estado, mas representando os interesses das classes já condicionadas pela divisão do trabalho. Como consequência, toda classe que aspira à dominação deve conquistar o poder político para apresentar seu interesse próprio como sendo o interesse geral.
A classe dominante é aquela cujo pensamento também é dominante. Ela dispõe dos meios de produção material e intelectual, que regulamentam a distribuição do pensamento, distribuído como uma lei eterna. Daí Marx e Engels dizerem que “Os pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão das relações materiais dominantes”. Daí também a divisão do trabalho tal como conhecemos ainda hoje: classe dominante com trabalho intelectual ativo, os pensadores; classe de trabalhadores com trabalho material. Portanto, a divisão do trabalho está na base da ideologia.
Nessa obra, Marx e Engels refazem longo percurso histórico dos momentos de separação de classes pela divisão do trabalho, passando pelas diferentes posições dos trabalhadores conforme o modo de exploração e pelas diferentes formas de propriedades. Mostram como a estrutura social e o Estado resultam de como esses indivíduos trabalham e produzem materialmente e independentemente de suas vontades. Mostram a linguagem da vida real. Foi por isso que eles disseram: “Contrariamente à filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui parte-se da terra para atingir o céu”. A vida é que determina a consciência.
Marx e Engels apontam um caminho: toda essa alienação apenas pode ser superada pelo comunismo e pelo desenvolvimento das consciências, separando as ideias daqueles que dominam para reconhecer o que é ideia e o que é ilusão; organizando o domínio das ideias; desmistificando conceitos. O resto, dizem, é baboseira idealista. A leitura dessa obra pode ser o começo de discussões menos ingênuas sobre contemporaneidades, como a reforma do Ensino Médio.
Preciso. Que a discussão ganhe peso político, nestes tempos em que a educação tem o peso insignificante do mercado.