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A Marcha e a História


Os comentários da mídia oficial e de seus seguidores antiPT sobre a marcha do MST hoje em Brasília não merecem comentários, mas tentar explicá-los reabre as páginas pouco lidas de As Veias Abertas da América Latina. Tudo nesse livro de Eduardo Galeano é grandioso e revelador.

Olhando para o passado e para o próprio tempo, Galeano fala das milhares de crianças no centro da tormenta das invasões imperialistas desde os achamentos, as mesmas que estão nas ocupações dos movimentos sociais hoje; fala da espoliação dos abutres do petróleo, da água, da floresta, do solo latino-americanos; do derramamento de sangue e dos dentes estrangeiros que sugam desde sempre a jugular deste continente, drenando riquezas, vidas, dignidade. Os braços que cruzaram o avião de concreto hoje levando faixas de reivindicações são os mesmos braços baratos do açúcar, do café, do cacau, do carvão, do algodão, da reforma trabalhista.


As queixas de muitos habitantes da capital-símbolo, temerosos de se atrasarem na ida ao trabalho, refletem "a esterilidade culpável da burguesia nacional". Marionetes de jogos que sequer imaginam, cacarejam, como ventríloquos de um mercado mundial que não fala português. Anestesiados pelo consumo diário de lixo midiático, apoiam, do interior de seus carros e de suas crenças egocêntricas, a marginalização de homens, de regiões, de classes. Batem continência para a bandeira de listras e de estrelas sem terem ideia de que "alguns países especializam-se em ganhar; outros, em perder". Sequer percebem que aqueles que ganham, ganham o que nós perdemos. Não percebem que a marcha de hoje, laureada pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz e ativista pelos Direitos Humanos, Adolfo Pérez Esquivel, grita que "a história do subdesenvolvimento da América Latina integra a história do desenvolvimento do capitalismo mundial."


Esses detalhes, a mídia oficial silencia, mas a obra de Galeano, que se mantém atual 47 anos depois, denuncia esse perigoso apagamento histórico. Outra leitura necessária.

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