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Diversidade nas Empresas

Atualizado: 13 de out. de 2018



Sou professora universitária em cursos de Publicidade e de Jornalismo. Nas duas cadeiras, a diferença de raça entre os alunos é gritante. Enquanto no Jornalismo há alunos negros, embora menos da metade do total de estudantes, na Publicidade, incluindo a professora, posso contar quantos negros há nos dedos de uma mão. Todos, como os demais, excelentes. Serão brilhantes futuros publicitários negros no mercado. Em minha época de estudante de Comunicação, quase 20 anos atrás, a situação era semelhante. Além de mim, só mais dois colegas negros: um no Jornalismo, outro na Publicidade.

Esta semana, o site Propmark, um dos mais importantes do meio publicitário, publicou a matéria “Faltam profissionais negros na publicidade”. Essa constatação não é nenhuma surpresa para os negros e nem deveria ser para os brancos, com a diferença de que estes últimos, por serem peixes dentro d’água, não percebem tamanha discrepância com mais clareza e rapidez.

Embora fale da Publicidade, o que mais me chamou a atenção na matéria, muito correta e abrangente, foi o modo como a diversidade é tratada em empresas públicas ou privadas no Brasil. No serviço público, onde atuo há mais tempo, essa é uma situação alarmante. Os concursos públicos estipulam cotas, mas dispõe de zero de medidas para que a pluralidade multiétnica se instale, seja em cargos de chefia, seja em cargos estratégicos, seja até mesmo em áreas de Comunicação. Tudo continua branco e masculino.

Para que a diversidade seja real, por que não estipular um sistema de pontos e de percentuais para que mulheres, negros e pessoas com deficiência ocupem cargos de liderança? Para a diversidade acontecer realmente e de maneira ampla, é preciso ações do mesmo tamanho e com a mesma sinceridade. Se não há diversidade entre gerentes, o que podemos fazer a respeito? É simples: vamos fazer.

Setores de sustentabilidade e de diversidade usam o tema apenas para falar de medidas sobre meio ambiente e sobre cuidados com a inclusão da pessoa com deficiência. Duas questões fundamentais, mas que não deveriam excluir a importância de se desenvolverem medidas de equilíbrio de gênero e de raça nas instituições dos três Poderes do governo. No Judiciário, então, muito acusado de elitista e de racista nos últimos tempos, nem pensar em diversidade. Isso é tabu. É o velho “não existe racismo e nem sexismo no Brasil. Somos todos iguais, todos seres humanos”.

Se dermos uma olhada nas grades das TV institucionais – falo, com conhecimento de causa, da TV Justiça, onde trabalhei por 7 anos e quase sempre fui a única repórter e apresentadora negra do quadro –, nos espantaremos com a pífia presença de negros e

de negras profissionais, falando de igual para igual com a grande diversidade do público brasileiro. Por que será? Não há profissionais negros e competentes no mercado?

Eu tenho muito orgulho em afirmar que nunca fui dispensada de nenhum trabalho como comunicadora por incompetência ou por justa causa. Não mesmo. Sou a prova viva do quanto pessoas negras são perfeitamente aptas e capazes de trabalharem nas áreas de Comunicação ou em qualquer outra área de conhecimento. As dispensadas e até mesmo as grandes fechadas de portas que recebi nos últimos anos e que me mantiveram afastada do mercado de TV ocorreram porque “eu não tinha o perfil” para trabalhar ali. Foi o que ouvi de um recrutador da TV Justiça que, desconhecendo meus 7 anos de experiência anterior naquele veículo, afirmou, olhando estranhamente para o meu rosto e meu cabelo: “Engraçado... Não te vejo na tela.”

Por isso, ao ler matérias como essa da Propmark, ou até mesmo ao escrever sobre como o Q.I. baixo impede a ascensão de negros em cargos de executivos no Brasil, como fiz recentemente para a BBC Brasil, percebo o quanto o país ainda não acordou para o fato de que, quanto menos diversidade, mais desequilíbrio há entre as empresas e a realidade da sociedade brasileira. Somos 56% e nos vemos pouco refletidos, tanto na Publicidade, quanto em qualquer outro lugar.

Embora tardiamente, seria bem inteligente as agências de publicidade começarem a se movimentar para diversificarem seus quadros de profissionais. Só não devem perder de vista que não estão fazendo nenhum favor aos negros, a quem nada vem de graça. Eles vão contribuir com sua competência e com suas perspectivas de vida para comunicar a mensagem plural ao público brasileiro, multidiversificado.

É como diz a influenciadora e ex-consulesa da França Alexandra Loras: “Chega de termos apenas homens brancos falando para mulheres e negros. É perda de dinheiro, e nós, público, já sacamos que eles não falam a nossa língua”.


Noemia Colonna é Mestre em Comunicação,

mãe de adolescente, professora, jornalista, mídia social,

leitora voraz, amante da música e outros corpus,

e uma pá de coisas que lhe caiam nas mãos.

De vez em quando dá uma pausa em tudo,

bota o pé na estrada, e se joga no mundo

para "ver e sentir as voltas que o mundo dá

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