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Foto do escritorDenise Macedo

Minorias: a liberdade dentro dos guetos



Cartilha Andes

Indígenas, estudantes e Margaridas ocuparam a Esplanada do Ministério. De novo. Pouco antes, foram os LGBT. Também de novo. Cada grupo à sua vez. Cada grupo com suas reivindicações. São as lutas das chamadas minorias. Importantes, mas parciais porque não contestam o poder, nem o capitalismo. Ao contrário, querem ser aceitas por eles. O resultado é que são desacreditadas, cooptadas ou devoradas por eles porque nenhum grupo é empoderado – conceito duvidoso – no capitalismo, por natureza, contrário à democracia.


Essas lutas não transformam a estrutura capitalista porque não tocam no cerne do problema: o neoliberalismo, que promove e se beneficia dessa dissociação entre pautas identitárias e luta de classes. Mészáros disse: o capitalismo escapa ao controle humano porque surge na História como estrutura totalizadora de controle à qual tudo o mais deve se ajustar para provar sua viabilidade produtiva ou desaparecer. Bauman: à medida que as relações sociais são guetificadas, a insegurança dos tempos pós-modernos desaparece, e os sujeitos têm o direito de serem livres no interior de seus guetos, desde que controlem e administrem suas existências na estrutura das normas legais reconhecidas pelo único poder legítimo de legislação: o próprio Estado.


Lutas identitárias devem reconhecer que são três os modos de dominação que se articulam intimamente: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcalismo, e que o nosso drama é que a dominação está articulada, e a resistência, desarticulada em lutas parciais: os sindicatos lutam contra o capitalismo, mas não contra o colonialismo e o patriarcalismo; o movimento negro, contra o colonialismo, mas se esquece do patriarcalismo e do capitalismo. A política, ao contrário, é sempre ampla; supõe visão de conjunto: quem não tem visão de conjunto não chega a ser político. Matança de índios deve ser preocupação de todos, e não apenas dos índios. Matança de negros pela polícia racista deve ser preocupação de todos e não apenas dos negros. A luta das mulheres deve ser dos homens também. E todas essas lutas devem ser lutas de instituições que operem por fora do Estado. Tivemos Lula, que, ao lutar por dentro do sistema, lutou também por manter sua posição de poder dentro do Estado e fez concessões demais para se manter nesse lugar.


Como sair dos guetos para a mudança social? Totalizando e institucionalizando as minorias. A base capitalista precisa ser confrontada porque ela separa muitos para gerar a felicidade de poucos. O que a resistência tem de fazer é reconhecer que os combates às desigualdades sempre foram feitos pela luta de quem afrontou o capitalismo como sistema. Deve enfrentar o sistema político e econômico ou será, como já é, uma validação liberal da ordem despótica que domina o cotidiano de todos nós.


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