Toda peça de design gráfico começa com um conceito. Segundo Paul Rand, “O bom design é a expressão sucinta e simplificada de um conceito em forma visual. Quando é realmente bom, chega a dar nova dimensão ao lugar comum”. Rand, considerado o Picasso do design, criou alguns dos logotipos mais duradouros da cultura visual do ocidente, como os das marcas IBM e da rede de televisão ABC.
No caso do livro Pinguela: a maldição do vice, o próprio título, bastante sugestivo, já apresenta o maior perigo que um designer pode enfrentar: a obviedade. Tentando desviar-me dela, ou, pelo menos, subvertê-la, busquei uma imagem poética no poema The waste land, de T. S. Eliot.
Essa terra arrasada é o Brasil, representado por uma textura de matéria em estado de deterioração. Sobre esse fundo, tracei desenhos a mão livre no Corel Painter, com uma tablet da Wacon. Apenas linhas em preto sobre um fundo ocre. Ao ocre, somei áreas em vermelho e em preto, texto em branco e chave cromática reduzida, com as cores em harmonia consonante, mais um contraste absoluto de valores: o preto e o branco.
O desenho delineia três elementos gráficos significativos: no alto, uma cadeira vazia olha também para o vazio, onde os ilegítimos planejam seus golpes e falcatruas. Ao centro, a própria pinguela ligando o nada a lugar algum. Na base, um navio naufragando, símbolo inequívoco de nossa condição política e social. Pouco acima da pinguela, um brasão da República flutuando sem rumo.
Confesso que não foi bem isto o que o autor do livro interpretou, o que faz parte do processo quando se trabalha com conceitos gráficos que se inscrevem no limite entre a arte e o design. Essa, uma relação cara à Casa da Mão.
Para a família tipográfica, busquei referências nas máquinas de escrever, pois se trata do livro de um velho jornalista.
Aqui, política, jornalismo, design e poesia constituem um todo integrado, condição de todo bom design.
Em Brasília, no último dia de agosto de 2018, pensando em votar no PCO.
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