
Meu vínculo com o Palco Giratório começou em 2001, com o primeiro espetáculo homônimo de minha Trupe Circo Íntimo. Sem querer, abrimos o festival ainda da coxia. O público entrava no Teatro Garagem, e fomos flagrados em nosso aquecimento, nos bastidores, cantando cantigas de roda, que se emendaram com a Oração ao Divino Espírito Santo, que sempre faço antes de entrar em cena.
Quando o público percebeu o que acontecia atrás das cortinas, calou-se, num máximo respeito, tocado pela melodia e pela oração, tão verdadeiras, de todos nós. Não nos via, mas ouvia nosso rito, e não nos intimidamos. Ao final de minha prece e do uníssono desejo de “MER-DA!”, a plateia aplaudiu, antes mesmo de entrarmos em cena. Foi um momento único.
Em seguida, participei mais alguns anos viajando com algumas premiadas e reconhecidas montagens, sendo sempre muito bem-acolhida em cada lugar, em cada teatro, em cada aplauso. É um movimento que não se dá de fora para dentro, colocando a cidade como mera receptora de cultura. O Palco Giratório tem um efeito de transformação quase que imediato para público e artistas, sobretudo, em um Estado com pouquíssimas iniciativas de subvenção artística. Muitos dos espetáculos apresentados no Palco Giratório dificilmente encontrariam, sem o apoio do Sesc, viabilidade comercial para apresentações nas diversas regiões do país, o que está muito difícil de acontecer atualmente, com os espaços sendo fechados e com a crise política que assola o país.
Aprendi muito nessas giras artísticas. Percebi o interesse e a sensibilidade do público para as mais diversas manifestações culturais, a valorização do artista e da nossa arte, os debates e as rodas de conversas pós-apresentações – troca única entre artista e público! Retorno instantâneo, com a plateia movida ainda pela catarse do que acabara de assistir... Sem igual. A reflexão e o diálogo entre criadores e demais companhias e também entre os espectadores são perspectivas que pautam um encontro permanente de distintas visões de mundo no rumo da construção de conhecimentos e de opiniões. A arte transforma a vida e reafirma o seu sentido nesse intercâmbio.

Juliana Drummond é formada em
Comunicação Social,
Atriz, Diretora e Coreógrafa.
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