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Um Desejável Mundo Confuso



Inicio minha participação no blog Casa da Mão com uma livre adaptação do texto Um Convite ao Vôo, de Eduardo Galeano. Esse texto, eu o interpretava na última cena do premiado espetáculo Ensaio Geral, da Agrupação Teatral Amacaca (ATA), trupe da qual faço parte e que é dirigida e conduzida pelo Maestro Hugo Rodas. Galeano, com toda a sensibilidade, toca-nos e traz a reflexão sobre nossos valores e modo de vida para nos tornamos seres melhores e mais evoluídos. Pertinente para o atual momento.

Milênio vai, milênio vem, ano vai, ano vem... E a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério. Foram proclamadas extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade tem apenas o direito de ver, de ouvir e de calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível: o ar estará livre de todo o veneno; as pessoas trabalharão para viver, em vez de viver para trabalhar; a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério; uma mulher negra será presidenta do Brasil, e outra mulher negra será presidenta dos Estados Unidos da América; uma mulher de algum povo indígena governará a Guatemala, e outra, o Peru. Amaremos a natureza, da qual fazemos parte; serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma; seremos todos compatriotas e contemporâneos de todos que tenham aspiração à justiça e aspiração à beleza e que tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem, nem um pouco, as fronteiras do mapa ou do tempo. E nesse maravilhoso mundo confuso, diferente deste fodido e fastidioso, nós viveremos cada noite como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.


Juliana Drummond é formada em

Comunicação Social,

Atriz, Diretora e Coreógrafa.

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