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Três projetos poderosos.



A morte de Antonio Candido, quase centenário, e os cem anos da revolução soviética dariam “pano pra manga”, para falar sobre dialética, dialética do localismo e do cosmopolitismo – famosa chave com que Candido leu Machado de Assis –, e “dialética da dialética do localismo e do cosmopolitismo”, fórmula da releitura de A.C. por Roberto Schwarz. Súbito, no entanto, me dou conta de que três pessoas por quem eu brigaria de faca, daria a vida ou tiraria o chapéu estão à frente de projetos de máxima relevância. Falo de Edson Lopes Cardoso, com o Ìrohìn, agora em Santo Amaro, na Bahia, de Ana Luiza Pinheiro Flauzina, com a editora Brado Negro, e de Newton Scheufler, o criador desta Casa da Mão. Admirado por ninguém menos que Florestan Fernandes, que o tinha na conta de amigo e colaborador, Edson é tema de filme sobre ele e Haile Gerima, cineasta etíope radicado nos Estados Unidos, autor de Sankofa e Adwa. O filme foi feito por Ana Flauzina, enquanto fazia doutorado e pós-doutorado em direito nos EUA. Só conhecendo a história da batalha de Adwa, quando os etíopes rechaçaram a invasão italiana em 1896, é que se compreende a provocação do título do Menelik (1915), jornal negro paulistano com nome do rei etíope, lançado no fulgor do patrocínio, pós-abolição, da imigração italiana e da política de branqueamento brasileira. No prelo, Motim: horizontes do genocídio antinegro na diáspora (2017) já é o sexto título da Brado Negro de que tenho notícia, isso no sentido bem metafórico, pois nunca um jornal de Brasília fez matéria sobre a editora que lança pesquisadores nacionais e internacionais da área de direito. Polímata – biólogo, mestre em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB), professor de Comunicação –, Newton Scheufler é o artista plástico que criou o painel Cinco, de expressão e dimensão monumentais, por encomenda da Universidade Católica de Brasília. Situada no Bloco M da UCB, a obra é praticamente clandestina nos roteiros de arte de Brasília. A 2,20 metros do chão, com 20 metros de comprimento e 3 metros de altura, o painel de Scheufler impressiona profundamente, tanto pelo que o olho humano consegue abarcar quanto por detalhes que só o olhar mecânico de uma câmera fotográfica acessa e capta, como inscrições que aguçam o desafio de leitura representado e inscrito na obra. Por má companhia literária, os Cantos de Maldoror, cristalizei a ideia de que uma grande obra deve ser como um grande assalto, embora a recíproca não seja verdadeira. Em sendo assim, o Cinco é um “roubo do trem pagador” e só por ignorância geral e absoluta passa tão incógnito, deixando Scheufler a solta para cometer mais delitos na Casa da Mão. Assimilada por uma universidade pública criada no governo Lula, Ana mudou-se para Salvador, de onde edita os livros da Brado Negro. Educadores de educadores, e formadores de formadores, Edson e Newton, até onde sei, mantêm-se fora do circuito das escolas públicas e demais instituições – que ficam um pouco mais privadas, realmente, de ensino superior.


Lunde Braghini é jornalista, mestre em comunicação (UnB),

ex-professor do Centro Universitário de Brasília (UniCeub)

e da Universidade Católica de Brasília (UCB),

diz-se inimigo do racismo, da homofobia, do sexismo,

do racismo de novo, e do capitalismo.

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