Uma pintura tem vários tempos: o tempo da criação, o tempo da execução, o tempo de secagem, o tempo da finalização ou do desfecho. Neste, há sempre o risco de o artista passar do ponto e pôr tudo a perder. Há o tempo preciso para terminar um quadro, ainda que artistas como Degas e como Matisse afirmassem que um quadro nunca termina, é o seu autor quem simplesmente o abandona e vai fazer outra coisa.
Há o tempo de repouso, o tempo do resguardo, o tempo de exposição, o tempo da venda. Há o tempo de estar na parede, o tempo que a obra durará. Mesmo longo, não é eterno. Em algum momento, a obra se desfaz. É destruída, ou, simplesmente, desaparece.
Manabu Mabe teria dito que um quadro só é vendido quando encontra o seu verdadeiro dono, o que pode levar muito tempo. Já vendi quadros que esperavam seus donos há anos. Estavam na minha sala, no meu ateliê, num depósito. Hoje, habitam outras imaginações. Quadros pintados no cerrado, por um gaúcho influenciado por criações universais e vendidos além-fronteiras. Estranhos meandros do tempo, do espaço e da memória.
Newton Scheufler é professor
e artista plástico
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