Nada me impede de achar tudo inesgotável, sem desgaste:
de onde a arte deveria partir senão dessa alegria e tensão do eterno começo?
(R. M. Rilke)
Como surge uma ideia? Como se materializam composições, originais ou não, pelas mãos que criam? Para o artista, por mais que trabalhe, por mais experiência que tenha, algo no processo criativo parece sempre inusitado, quase um assombro. Após horas concentrado sobre a obra, ele se afasta, olha sua criação e se pergunta: mas, afinal, de onde surgiu isto?
Nesse processo estranho e indefinível, a técnica e a ordem, associadas à experiência do artista, têm grande influência. Mas é na subversão intuitiva da primeira que o artista descobre o mais verdadeiro de sua criação, aquilo que a técnica, sozinha, não mostraria.
Enquanto o trabalho se desdobra em seu fazer sem fim, um feliz momento captura uma ideia, resultado de uma busca incessante. Anish Kapoor fala desse encontro necessário, aparentemente casual, quando o artista tropeça na solução para seus dilemas artísticos.
Tropecei em uma ideia durante uma reunião acadêmica. Capturei-a em algumas linhas rápidas. Desenvolvi o conceito em um caderno de esboços. Realizei o trabalho final em aquarela. Meu amigo Duda Bentes comprou o trabalho, que virou história.
Newton Scheufler é
professor e artista visual.
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