O ministro da educação vai reunir reitores das universidades federais para apresentar o programa de governo Future-se, que, supostamente (palavra adorada pelo ainda superministro da justiça), pretende aumentar a eficiência das universidades federais. "O que a gente vai fazer: eficiência", reiterou o economista, ministro da pasta.
A articulação com um ministro que defende que os cursos de filosofia sejam pagos pelo próprio aluno porque o governo vai investir em áreas que dão "retorno efetivo" preocupa. Preocupa porque remete ao Estado que funciona como empresa, com foco na eficiência dos serviços e nos resultados, longe de serem os únicos fins de uma universidade pública. Preocupa porque, como o reitor da UFRJ já apontou, a modernização do MEC coincide com as agendas do Bird, do BID e da Cepal para o ensino superior público: racionalização; bônus; padronizações; eficiência e pragmatismo universitário.
Nessa perspectiva, a pesquisa científica passa a compor o setor de serviços não exclusivos do Estado, abrindo as portas para formatos de privatização na arena educacional. O ministro nega, mas essa relação mercantil entre universidade e sociedade sempre foi acompanhada pelo léxico gerencial da eficiência, da qualidade, da excelência, da produtividade, do gerenciamento empresarial. É quando o critério da eficiência passa a ser o padrão predominante de avaliação.
Foi nessa perspectiva também que os rankings foram legitimados na referência aos valores de excelência e de qualidade. Tratados como senso comum, não explicitam suas tradições utilitárias e pragmáticas que apelam para critérios de eficácia como critério de verdade e de fundamentação do comportamento ético. Eles estão embutidos na concepção de modernização universitária para prestar contas à sociedade, ao setor produtivo e ao Estado com maior produtividade, eficiência e racionalização.
Foi essa mesma perspectiva ainda que consagrou a especialização e a departamentalização universitária, iniciada em Harvard e muito eficiente em países com maiorias ricas, esses mesmos citados pelo ministro economista. Porém, mesmo nesses países, crises econômicas mostraram a ineficiência da fragmentação científica para a construção de um mundo mais igualitário porque o produto de cada departamento continua limitado à reprodução do sistema em crise, uma vez que cada ramo, isoladamente, não dá conta de entender a realidade.
Distancia-se cada vez mais de vista o paradigma de universidade de que nós, os latinos (generalização adorada pelos colonizadores do Norte), precisamos. Nem acadêmica, alijada dos problemas sociais; nem operacional ou cativa, voltada para o mercado; nem inclusiva, voltada, marcadamente, para inclusão social; mas necessária, destinada à superação do subdesenvolvimento e da dependência: a universidade darcyniana. Essa é a universidade que luta contra o subdesenvolvimento e a dependência da América Latina; enfrenta o desafio de existir na periferia capitalista. Uma universidade, no entanto, sem chances, quando o presidente-cabo bate continência para a bandeira estadunidense e os antigos eixos colonizadores voltam a ser a régua que mede as necessidades dos antigos colonizados.
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