Já vivi algumas situações em público que me fizeram pensar nos caras legais que detestam as feministas. Alguns deles frequentam os meus saraus, outros fazem posts elogiosos aos meus textos e outros me escrevem no chat marcando um cafezinho eventual. Um deles, numa conversa numa mesa de bar, comentava como a medicina tinha sido generosa com os homens de qualquer idade por conta da descoberta do viagra, e acrescentou ser uma pena que a lubrificação feminina ainda seja impossível de resolver e que isto faz com que as mulheres maduras perdessem a vez para as mais jovens. Outro, sociólogo e historiador importante da Urguis, depois de ouvir uma palestra minha sobre como a literatura de autoria feminina têm sido libertadora para as mulheres, tentou encerrar a discussão dizendo que era uma pena que o feminismo não tinha, efetivamente, emancipado as mulheres. E outro, tomando exemplos da antropologia, explicava que as mulheres, desde sempre tinham sido e seriam responsáveis pela alimentação e nutrição da humanidade. Conheço-os, sei quando se aproximam e o que vão dizer, a linguagem corporal e o olhar esxxperto os denunciam, chegam simpáticos e doutos, dão beijinho e dizem o quanto admiram meus textos, me cortejam. Depois vomitam este monte de merda com a mesma galanteria com que se aproximaram. Perguntam porque não escrevo mais sobre sexo com olhar malicioso. Sei quando chegam e conheço o que vão dizer. Podíamos dar uma aula sobre a lubrificação das mulheres maduras, já que são estes senhores são grandes ignorantes sobre o tema, todos eles que jamais, e em situação nenhuma, brocharam e que vivem com o membro em riste seduzindo virgens desavisadas, ou dizer o tanto que o feminismo emancipou as mulheres, livrando-os da mesada para uma renca de filhos sem a luta pelos direitos reprodutivos, ou o tanto que as mulheres sonham em colocar estricnina em pelo menos uma das refeições do dia, ao longo de uma vida. Mas eu fico quieta, bem quietinha e exausta, vendo-os chafurdar na própria inveja e burrice, convicta de que não vou perder tempo em alfabetizar sociológica e emocionalmente estes camelos. Nem adiantaria tentar né.
Lélia Almeida é escritora
e escreve sobre as mulheres.
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