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Distopias bolsonaristas


Já temi que as bobagens bolsonaristas se naturalizassem no cotidiano brasileiro, como as tolices novelescas e outros realities shows, mas elas realmente ainda surpreendem. Neoliberais falando de Educação, de Sociologia e de Filosofia é mesmo hilário.


Focar em áreas que gerem retorno imediato (que o ministro chama "retorno de fato") lembrou-me entrevista que fiz com uma professora da Educação da UnB: "Farmácia, Medicina dão produtos, como remédio para vacas. Conversam com o mercado assim: 'Vamos fazer tal pesquisa porque vai te dar tal produto, que pode te dar tal certificação.' Mas as Humanas trabalham com conselho, cujos resultados colheremos daqui a seis anos. Como comparar meu resultado com um departamento que tem um produto?" Resposta simples: não se compara.


O léxico neoliberal continua gritando: "A função do governo é respeitar o dinheiro". O governo sabe que deus virou din-din há muito tempo. Por isso mesmo, elegeu-se com esse discurso. Theodor Adorno já disse que as pessoas agem como produtos ou como consumidores. Então, o presidente e seu ministro devem ter razão quando dizem ser um desrespeito ao dinheiro dos cidadãos ensinar Humanas. É o que linguista Rick Iedema chama conhecimento operacionalizado: aquele incorporado a novos produtos e a novos serviços como estratégia de desenvolvimento de um país. O discurso neoliberal iguala conhecimento a outros fatores de produção.


Um dos dados alcançados na minha pesquisa de 4 anos sobre mercantilização das universidades públicas é a de que, dizem os professores, "As humanas têm que lutar mais pelos recursos em relação às exatas. Tem que brigar, tem que forçar. O diálogo é construído na luta. A briga é por condições. Por que um programa de alfabetização de adultos é menos importante que uma propaganda do Presidente da República, por exemplo?" Meu dado, agora, está provado pelo presidente da república que nunca frequentou a academia.

O ministro da educação, que é economista, segue dizendo que "podemos estudar Filosofia, mas com dinheiro próprio". Que bom. Ficamos felizes com sua concessão. Talvez o erro esteja mesmo em supor que o atual governo saiba que a crítica à especialização e à departamentalização está já em Cristóvam Buarque, no próprio Darcy Ribeiro e em Nietzsche. "Quem?", perguntaria ele.


Todos sabemos que mesmo as crises econômicas em países ricos mostraram a ineficiência da fragmentação científica na construção de um mundo mais igualitário porque o produto de cada departamento continua limitado à reprodução do sistema em crise, uma vez que cada ramo, isoladamente, não dá conta de entender a realidade. Mas dar conta da realidade não é algo que se espere dessa equipe, equivocada nos detalhes, altamente distorcida em sua representação de mundo e longe, muito longe de saber sobre Educação.

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