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Desmonte de universidades e eleições


Marilyn Strathern, uma das mais importantes antropólogas do mundo, organizou o excelente livro Audit cultures: antropological studies in accountability, ethics and the academy (Routledge, 2005). Trata da entrada da cultura da auditoria nas universidades públicas. O foco está no encontro entre o financeiro e a ética no interior dessas instituições, no qual o primeiro vai estabelecendo consensos sobre metas, sobre objetivos e sobre procedimentos no ensino superior público.


Strathern abre a obra perguntando: como lidar com os desafios da cultura da auditoria que impactam a produção intelectual? Na mesma linha, outros 11 antropólogos mostram como o Fundo Monetário Internacional (FMI) escolhe, trabalha, usa, apresenta, discute e impõe números para interferir em universidades por todo o planeta no pano de fundo dos ajustes estruturais do FMI.


Nova Zelândia, Grécia, Áustria, Reino Unido aparecem nesta obra sobre como as universidades vão se transformando em um panóptico que culpa a liberdade acadêmica pelos problemas universitários, abrindo portas a auditorias, a ameaças à liberdade acadêmica, à criação de centros de excelência e de marketing, aumentando a proliferação de pesquisas publicitariamente orientadas. Tudo isso move as universidades, da torre de marfim, para o ambiente mercantil, espaço em que as forças privadas são mais fortes que as públicas. Nesse movimento, acadêmicos surgem como marionetes do punho de ferro de forças políticas e econômicas, e os problemas das universidades tomam o 1º. lugar nos debates públicos para justificar cortes financeiros, censura e pagamento de mensalidades.


A obra dialoga, clara e abertamente, com outras produzidas por acadêmicos brasileiros, mostrando que o fenômeno da mercantilização das universidades públicas não tem fronteiras.Esta é uma leitura para nunca mais olharmos os números de agências nacionais e estrangeiras do mesmo jeito e para desconfiarmos de qualquer um que ataque a universidade pública e gratuita, sobretudo, em anos de golpe e de eleições, esse, sim, um casamento perigoso.

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