Série: Decadência e Sombra
Retratos de homens de bem
Notas sobre a personalidade autoritária
Tinta de caneta-tinteiro e grafite sobre papel para gravura em metal Arches, Paris
A série trata da decadência de um país. O Brasil assolado pelos demônios do autoritarismo. É um projeto de nação que se desfaz nas sombras da ignorância, da violência e do preconceito.
Se, por um lado, a tinta de caneta-tinteiro pode ser vista como material inadequado para um trabalho artístico – como, certa feita, insinuou um desses cretinos que infestam galerias e vernissages –, uma vez que a passagem dos anos e a exposição à luz a fazem esmaecer consideravelmente, por outro, é exatamente esse fato que a torna tão atraente, pois inclui os trabalhos realizados com esse material em uma categoria chamada Arte Efêmera, ou seja, uma obra de arte que se desfaz com o tempo. Quanto maior o grau de exposição à luz, maior o nível de esmaecimento, pois a tinta não desaparece imediatamente, leva anos, décadas, em lento processo de empalidecimento. A intensidade desaparece rapidamente, mas a forma permanece por um bom tempo. Exposta diretamente à luz solar, no entanto, desaparecerá quase por completo em alguns meses.
Um de meus temas no desenho é a sordidez da classe política, que tento representar em séries de retratos, de caricaturas e de cartuns. Esta Decadência e Sombra: retratos de homens de bem – expressão forjada pela mídia-classe-média-coxinha –, feita com tinta de caneta-tinteiro, indica meu desejo de que os "homens de bem", com o tempo, desapareçam. A Arte sempre é política.
PQP!!! Parabéns por captar com tanta clareza nosso momento sombrio!