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Bicicletas Amarelas


A história (malcontada) do metrô de Brasília começou em 1991. Até hoje, ele liga quase nada a quase lugar nenhum diante das necessidades desta cidade de distâncias monumentais. O governo se gaba de ter uma estação solar na Ceilândia e de atender 160 mil usuários/dia. O metrô sempre inacabado tem seu valor, mas não evita a alta demanda de carros na capital e no entorno. Enquanto isso, opções charmosas de locomoção, por onde o metrô e os ônibus não alcançam, vão surgindo.


Nas últimas semanas, bikes amarelas e patinetes verdes surgiram em vários pontos da cidade maquete. Há em outros estados, mas nas quadras do avião têm um charme particular. Elas se misturam à paisagem outonal, embora já seja primavera. Enfeitam esquinas (sim, Brasília tem), humanizam calçadas, marcam a presença de quem as deixou ali e a do próximo a usá-las, porque a identidade de um indivíduo está na relação que mantém com o outro, e a cidade é o palco dessa relação.


No caso de Brasília, as yellows se harmonizam com as fachadas livres, com os pilotis, com os cobogós. Conseguem transitar por espaços ainda não invadidos por puxadinhos, esticadinhos, grades, prédios espelhados cafonas em áreas e esquinas verdes, supermercados e farmácias em lugares destinados a outros fins. Além de charmosas, parecem complementar a sociabilidade desejada por Lúcio Costa e suas unidades de vizinhança: residentes e passantes trocando objetos e atividades conjuntas. Esse conceito de unidades de vizinhança, pioneiramente estadunidense e depois inglês, busca mesmo recuperar escalas suburbanas, intimistas, verdes, solidárias, decorrentes de conexões funcionais e estéticas, dentro das escalas amplas das cidades.


As bicicletas amarelas mais parecem instrumentos entrosadores de pessoas e de espaços em uma concepção moderna de desencaixe, termo característico da modernidade: é preciso pagar para usar, claro, mas esse estilo autoatendimento depende da confiança no usuário. Confiança define-se como crença no sujeito e no sistema; risco e confiança se entrelaçam. Apesar de parecer estar dando certo, se observarmos bem, veremos que essa bike da foto já está sem o banco. Levaram. As ideias são uma coisa; o ser humano real, outra, mas a iniciativa “Curta Seus Caminhos Pela Cidade” permanece elegante.

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