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É assim mesmo

"É assim mesmo". Será? "Cada um tem sua opinião". Mesmo? Que opinião? Onde? Na eleição decidida como quem escolhe o vencedor da última edição do BBB? Quem tentou "virar um voto", o que me pareceu uma tentativa infantil e desesperada de uma centro-esquerda conciliadora demais e despreparada, percebeu o completo esvaziamento do poder da argumentação. Ouvidos moucos.


Não se conversa com o fascismo. Por isso, ele chegou lá, em um cenário de sociopatas e de neoliberais sem capital que desprezam o conhecimento, mas que têm grande prazer com a violência que vêm pela TV e pelas redes sociais. A violência sobre o outro. A representação que procuram é a da força, a do poder militar, a positivista da ordem e progresso verde oliva. A questão central não é se é certo ou errado, mas se é fraco ou forte, diz Safatle. A identificação da maioria média é com a força, não com a justiça. Basta pensar que, quanto menos violento o município, maior o resultado obtido pelo defensor da tortura. O fascismo chegou lá.


Não vou falar dos "neutros", os omissos de sempre, mas dos cristãos que choram a traição ao filho do pai e que traem a História do próprio continente, que desconhecem. Das famílias, tradicionais, valor caro ao conservadorismo, que formam os homens e as mulheres violentos e violentas das próximas gerações, ainda que a violência seja simbólica. Uma juventude cuja parcela significativa aposta na volta a 50 anos, passado de tortura, de extermínio, de força militar, de autoritarismo, em uma nostalgia pelo que não viveu e em um desejo de submeter-se porque não foi incentivada a criar, a criticar, mas a obedecer, a copiar e a acreditar na história oficial, e não em outras histórias reais e possíveis. Uma juventude do passado. Uma juventude que não é futurista. São como seus pais, que foram como seus pais.


Criou-se uma maioria que não poderia ter sido criada. Uma maioria cafona, dogmatizada e moralista que pretende impor a domesticação de corpos, dos gestos, de expressões, do pensamento, do credo. E eles escolheram, e o grotesco chegou lá.


Brasil, really? Pergunta-me um amigo virtual do Norte. Entre o constrangimento e o peso da derrota, tento explicar. Ele logo me entende porque eles também têm o seu fantoche exterminador, que muitos eleitores de cá admiram.

Saio com meu lenço vermelho, de anos, na cabeça, mas devo estar atenta, pois o novo eleito ameça varrer os vermelhos da face da terra. Uma amiga adoece entre a derrota de seu voto e o começo do fascismo, materializado em vários níveis, de várias formas, barulhentas ou silenciosas. Já respiramos ares do porão, em que a ditadura é naturalizada, é eleita e é chamada de movimento.


Nosso fracasso cotidiano e histórico é imenso, mas não deve ser "assim mesmo", porque contra a distopia do cotidiano ainda existe o antídoto da utopia da resistência.

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